segunda-feira, 20 de setembro de 2010

REALIDADES QUE NOS ESCRAVIZAM

NA DIREÇÃO CERTA MAS NO SENTIDO ERRADO:


Dessa vez, eu me percebo com grande poder de fogo. Assim, como uma dessas casualidades inexplicáveis que nos acontecem num dia. Eu havia acabado de receber a notícia que era portadora de esclerose múltipla. Possuidora de um tumor cerebral que não me condenava à morte, mas que não me permitiria enxergar nitidamente nunca mais. Eu teria que conviver com uma limitação física. Mas o interessante da história foi que busquei consolo para uma doença física. E acabei entrado num processo de cura interior que não parou nunca mais.

Ante o impacto de um diagnóstico desses, procurei auxílio religioso na Canção Nova. Possuidora de um sentimento de auto-comiseração, escrevi um email lamentando minha condição e esperava consolo e alguma promessa de que seria feita uma oração por mim. Como resposta, recebi um link para ouvir uma pregação do Padre Fábio de Melo.

Até então, era apenas mais um padre-cantor ou cantor-padre. Bonito demais. Eu o havia visto num programa vespertino de televisão e o achei tão desconfortável. A princípio confundi aquele olhar com imaturidade profissional. Era um menino muito novinho. E de repente, por conta da busca do consolo espiritual, cliquei no link da pregação.

Como ter fé no Sofrimento” foi o primeiro passo que dei em direção a minha cura. Daí, eu soube de um livro: “Quem me roubou de mim” (eu li). Ainda digerindo as informações da pregação e do livro, vou à missa de um mês de falecimento de minha tia, e ouço um louvor que colocou em palavras a dor que habitava dentro de mim: “sou humano demais para entender...”.

Eu literalmente desabei. Chorei o choro mais profundo que um ser humano pode chorar. Foi pedaço meu para todos os lados. Eram tantos cacos que tentar colá-los de volta seria um quebra-cabeças insolúvel.
Cheguei em casa em estado letárgico. Aquelas palavras estavam todas embaralhadas na minha cabeça. Eu percebia uma tempestade se aproximando. Eu ouvia uns sons a minha volta. Tinha pedido a Deus um milagre: pedi por minha cura física. Há menos de um ano atrás, eu rezei achando que voltaria para a vidinha pequena e limitada que eu considerava ideal. Hoje, dez meses depois, eu posso com certeza afirmar que Deus fez o que quis de mim. Foi lá no início da minha existência e veio consertando tudo de errado que encontrou pelo caminho. E Ele, sem nem me consultar, ignorando qualquer forma de protesto que eu tentasse fazer, respondendo ao meu pedido por uma cura física lá do início, me colocou num caminho, não de uma vida ideal, mas de uma vida certa. Eu me rendi. Entreguei os pontos. E comecei a viver a maior história de amor que um ser humano pode experimentar. Cortinas se abriram e enigmas foram desvendados. Quando mergulhei no que Santa Faustina chamou de "Abismo de Misericórdia", ergui meus olhos em ascensão ao céu.

Aquele desconforto que percebi no tal padre-cantor / cantor-padre não era imaturidade profissional. Era maturidade demais para responder com muita polidez àqueles clichês absurdos: “Por que você quis ser padre se é tão bonito? Você pode ser cantor sem ser padre. Como é o comportamento das meninas diante da sua opção de ser padre?...”. Que absurdo. Só quem consegue enxergar a ponta desse iceberg pode perceber que não é ele quem está no lugar errado. As perguntas das entrevistas é que são superficiais demais diante de tudo que este camarada tem para fazer de mudança – para melhor – na vida dos seres humanos. Vai doer. Vai causar confusão. Vai te dar uma raiva danada. Mas vai fazer exatamente aquilo que ele sabe ser o seu papel nesta vida: pegar um ser humano que está na direção de Deus, mas trilhando o sentido contrário e fazer esse ser humano ser feliz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário